Educação
Brincar é o canal para a aprendizagem da criança
* Simone Duval Damini
** Maria do Carmo Fernandes
A sociedade e a infância têm passado por grandes mudanças e transformações. Os avanços tecnológicos disseminando-se em ritmo acelerado, o controle da natalidade, a redução do número de filhos por família e o ingresso das mães no mercado de trabalho mudaram significativamente as feições da infância. Consequentemente, as crianças acabam indo mais cedo para a escola.
Em função de todas essas questões, as crianças crescem mais solitárias e tornam-se mais individualistas. E mais, o tempo livre é, na maioria das vezes, preenchido pela maior companheira das crianças nos dias atuais, a televisão, que as bombardeia de imagens dirigidas (apenas o que é do interesse das emissoras) e mensagens subliminares.
As nossas crianças ficam passivas em frente a esse meio poderosíssimo de comunicação, absorvendo passivamente as informações de um mundo adulto, muito além do seu universo infantil.
Assim, muitos estudiosos, dentre eles Jean Piaget, Demerval Saviani, Cristina Von e outros, resolveram analisar a criança como um todo e, principalmente, o seu crescimento enquanto criança, ou seja, que brinca, que corre, que fala, que grita, que estrapola, que briga, enfim.
É sabido que o brincar é de extrema importância para o desenvolvimento integral da criança, nos aspectos social, intelectual, afetivo e cognitivo. Muitos estudiosos, já citados anteriormente, basearam suas pesquisas nesta questão, deixando clara e objetivamente fundamentada a importância do brincar na infância.
Uma criança que brinca desenvolve sua imaginação, é criativa e se torna autônoma. Criança que brinca é saudável e feliz, e este sentimento de felicidade provoca nela a manifestação de potencialidades, desperta a coragem para enfrentar desafios, arriscar e superar obstáculos, motivando-a para o criar. Heinkel (2000) em sua fala nos diz que "no brincar a criança busca formas de compreender e construir a realidade em que está inserida, toda ela, com as maravilhas das obras e criações humanas, mas também com tudo o que temos de ruim: a violência, a falta de solidariedade, o descaso com a saúde, a educação e moradia".
Brincar é o canal para o aprendizado, já que a criança, ao fazê-lo, pensa, reflete, imagina e, ao mesmo tempo em que desenvolve esta imaginação, constrói relações reais entre ela e o ato de brincar, elabora regras de organização e convivência com o outro.
Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência da realidade, ao mesmo tempo em que já vivem uma possibilidade de modificá-la. O brincar implica, necessariamente, a participação e o engajamento da criança, pois tem o sabor de desconhecer o já conhecido, uma vez que cada brincadeira, cada momento em que esta brincadeira se realiza, torna-se objetivo de redescoberta e reaprendizado.
Cada momento é único. A criança brinca, desfaz a brincadeira e a faz novamente de modo diferente. É como se revivesse momentos iguais e diferentes ao mesmo tempo. Portanto, mais uma vez reforça-se que o ato de brincar é essencial para o desenvolvimento infantil.
A supervalorização da teoria em detrimento da prática acaba por deixar lacunas nas diferentes aprendizagens que a criança constrói, efetua, durante o ato de brincar. A preocupação "conteudista", em algumas situações, prevalece sobre aquilo que realmente é importante ou, pelo menos, mais importante para a criança: o brincar, a infância, o correr, o imaginar, o fazer, o refazer, enfim.
Assim, o brincar é deixado de lado e acaba por não receber a devida atenção, sendo de máxima importância a relação entre brincar-aprender-ser! A relação que é estabelecida com o ambiente em que a criança vive e explora faz com que ela construa sua identidade, sua autoimagem e, principalmente, sua autonomia.
Essas linhas são direcionadas a comprovar a importância do brincar no desenvolvimento infantil, durante a infância e as diferentes maneiras como o brincar acontece. Tem a "pretensão" de criar uma nova postura pedagógica e metodológica, conscientizando a todos os educadores, principalmente aqueles que lidam diretamente com a educação infantil, a importância desta etapa na vida de cada criança, e ainda mais, o que este brincar representará e refletirá em seu estado de tornar-se um "ser" único e de desenvolver, assim, suas capacidades e habilidades.
Enfim, é brincando que a criança cresce e amadurece, realiza sonhos, extravasa seus medos, imita seus pais e o mundo adulto, testa limites. Seus sentidos aprendem a coordenar o que veem com o que fazem, e elas adquirem o domínio sobre seus corpos. As crianças exploram o mundo e a si mesmas brincando; reforçam e adquirem novas habilidades; tornam-se proficientes na língua; experimentam diferentes papéis e – ao reencarnarem situações da vida real – manejam situações complexas.
Afirma-se, assim, que brincar é tão importante que faz parte da Declaração Universal dos Direitos da Criança (ONU – 30 de novembro de 1959), como podemos constatar em um dos artigos sobre o tema: "Todas as crianças têm direito à educação e ao lazer infantil". (Von, 2001, p 223).
* Professora das séries iniciais da EMEF Arlindo Luiz Osório, pedagoga com especialização em Orientação Educacional e especialização em Educação Infantil
** Professora das séries iniciais da EMEF Arlindo Luiz Osório e acadêmica do curso de Pedagogia da UPF
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