quinta-feira, 10 de março de 2011

Dificuldade de Aprendizagem - TEXTO REFLEXIVO

A aprendizagem é um processo vincular e complexo que se realiza no indivíduo e se manifesta em mudanças de seu comportamento. Para que a dificuldade de aprendizagem seja reconhecida em uma criança, deve-se ter claro o entendimento do que é a aprendizagem e quais os fatores que nela interferem.
O distúrbio de aprendizagem envolve déficits em várias áreas, causando perturbações emocionais, dificuldades de relacionamento e contribuindo para reações dos indivíduos em certos estímulos, manifestadas com etiologias diversas, sintomas emaranhados e diferentes diagnósticos. Frequentemente, as dificuldades de aprendizagem, são acompanhadas de déficits em habilidades sociais e problemas emocionais ou de comportamento, podendo ser verificado, tanto em critérios de identificação das dificuldades de aprendizagem como em abordagens genéricas do insucesso escolar (Kavale; Forness; Hinshaw apud SANTOS; MARTURANO,1999).
A dificuldade de aprendizagem é um termo que se refere a dificuldades na aquisição e no uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. A proposta do National Joint Committe on Learning Disabilities é que a dificuldade de aprendizagem seja entendida como transtorno que ocorre na aprendizagem escolar, podendo se manifestar na aquisição da leitura, escrita ou aritmética (Fonseca apud DIAS et.al., 2004). Algumas das causas dessas dificuldades são: físicas, sensoriais, neurológicas, cognitivas, sócio-econômicas e emocionais, sendo esta última uma das principais causas que podem dificultar a aprendizagem e refletir diretamente no comportamento.
Entende-se que uma criança com dificuldades de aprendizagem, apresenta irregularidade de comportamento quando comparada ao grupo etário a que pertence. Conforme Stevanato (2003), as crianças com dificuldades de aprendizagem e de comportamento são descritas como menos envolvidas com as tarefas escolares que os seus colegas sem dificuldades.  E quivale dizer, ainda, que crianças com queixas de dificuldade de aprendizagem, quando comparadas às crianças com bom desempenho escolar, apresentam diferenças significativas quanto à produção: comportamento, capacidade de organização, atenção, iniciativa, decisão, comunicação e interação espontânea; e quanto à percepção, baixo senso de auto-eficácia (MEDEIROS et. al, 2003).
Segundo Schunk (apud MEDEIROS et. al.,2000), existem quatro principais formas de influência sobre o desenvolvimento da auto-eficácia: a) experiências significativas, cujos resultados levam ao sucesso ou ao fracasso, o que aumenta ou diminui o senso de autoeficácia; b) experiências através do outro, como observações sociais e avaliação do desempenho dos outros; c) persuasão social, ou seja, avaliações recebidas dos outros; e d) os estados psicológicos associados a emoções positivas ou negativas que influenciam na maneira como as situações são percebidas. A partir disso, entende-se que o rebaixamento da auto-eficácia influenciará diretamente no autojulgamento da criança quanto à capacidade de desempenho em atividades específicas, na escolha de atividades, na motivação e na quantidade de esforço investido por ela em suas tarefas. Assim, a criança poderá abandonar essas tarefas, caso se sinta ineficiente para realizá-las.
Os conceitos de sucesso e de fracasso são, na maioria das vezes, aprendidos na escola, pois é nesse ambiente que a competência da criança é avaliada pelos adultos e por ela mesma. O sucesso aumenta a autoestima, proporciona novas experiências e influencia todas as atividades que a pessoa pratica, na forma como vê o mundo e na sua própria auto-avaliação. Já o fracasso paralisa, gera frustração e o crescimento fica estagnado.
As dificuldades comportamentais e emocionais influenciam problemas acadêmicos e estes afetam os sentimentos e comportamentos da criança.
O que preocupa é que, além das crianças se auto-avaliarem, a escola também as avalia, tendendo a enfatizar as comparações sociais com base no rendimento escolar. Neste sentido, Renick e Harter (apud OKANO et al, 2004) relataram que o processo de comparação social é de grande importância na formação da autopercepção dos estudantes com dificuldades de aprendizagem no que se refere à competência acadêmica. Desse modo, a experiência escolar tem um papel crucial na formação das autopercepções das crianças. Por isso, crianças com dificuldades de aprendizagem podem apresentam um autoconceito negativo, apenas no domínio acadêmico, classificando-se como menos competentes frente às habilidades escolares, não diferindo das crianças sem dificuldades de aprendizagem em outros contextos.
Os déficits específicos da dificuldade demonstram a base de conhecimentos empobrecida na criança.
Essas dificuldades, por sua vez, levam a déficits estratégicos na motivação e no esforço para a aprendizagem, como também, ao aumento da percepção de inadequação e baixa autoestima na criança (Gerber apud BERNARDES DA ROSA et al, 2000). Com isso, ao fracassar na escola, o aluno tende a pensar que fracassará em tudo na vida. O mau-desempenho deste, aumenta a ansiedade já existente e interfere no seu autoconceito, ou seja, na imagem que ela possui de si mesmo e passa para os outros, e em quem acredita que é. Portanto, a incompetência pessoal, sentimentos de vergonha, baixa auto-estima e de autoconfiança podem conduzir à falta de motivação, afastamento das demandas de aprendizagem, crises de ansiedades e estresse, caracterizando problemas emocionais. Já os sentimentos de frustração, inferioridade, raiva e agressividade diante do fracasso escolar podem resultar em problemas comportamentais, tais como resistência em ir à escola, conduta mais agressiva, dificuldade de atenção e concentração e etc. (Roeser; Eccles apud STEVANATO, 2003).
As crianças que apresentam dificuldades comportamentais, além de dificuldades de aprendizagem, podem apresentar um autoconceito mais negativo que aquele que apresentam apenas dificuldades de aprendizagem. Esse conceito mais negativo aparece pelo fato de essas crianças receberem uma desmotivação do ambiente, não só em relação ao contexto acadêmico, mas também em relação ao contexto social.
Sendo assim, a experiência escolar tem um papel fundamental na formação das autopercepções das crianças. Neste sentido, crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam um risco elevado de terem um autoconceito negativo, particularmente quanto à área acadêmica (Elbaum; Vaughn apud STEVANATO, 2003) . As dificuldades comportamentais e emocionais, por sua vez, influenciam problemas acadêmicos, e estes afetam os sentimentos e comportamentos da criança. Quanto maior se torna a expectativa e valorização da escola pelos pais, mais penalizada fica a auto-estima das crianças, numa situação de insucesso escolar.
O mau desempenho aumenta a ansiedade já existente na criança, causando prejuízos familiares. Além disso, os pais podem se sentir envergonhados e incompetentes, muitas vezes manejando erroneamente a educação dos filhos. Marturano et.al. (apud PARREIRA, MARTURANO, 1996) encontraram indícios de enfrentamento inadequado de situações cotidianas (hostilidade, resistência e normas) e relações deterioradas entre a criança e seu ambiente, sugestivo de tensões familiares. Contudo, é importante considerar a função que essa criança desempenha na família, como lida com a ansiedade e como recebe as mensagens envoltas nos discursos de sua família.
Por fim, ressalta-se que diante da necessidade de aprender, há uma dificuldade em aprender, o que está diretamente associado a sentimentos de incapacidade, angústias, baixa auto-estima e baixo senso de auto-eficácia, refletindo diretamente nas autopercepções, autojulgamentos da criança. Embora não se tenha uma idéia relevante e clara sobre a natureza das dificuldades de aprendizagem, não se pode desconsiderar os problemas emocionais e comportamentais envolvidos nessa situação. Esses problemas relacionados a aprendizagem, não podem ser devidamente entendidos somente sob a perspectiva daquela criança que não aprende e tem dificuldades, mas também, a partir de outros contextos, como por exemplo, escola, família, e ao grupo etário a que pertence.


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